9 de mai. de 2011

Entrevista com Adriana Santana (por Marina Florindo)

Nome, idade, e profissão.
    Adriana Santana da Silva, 25 anos, estudante de Artes Visuais, na UFMG.
  
A seu ver, acredita que as mulheres ainda não conquistaram seu espaço no país? Vê a desigualdade de gêneros como um problema brasileiro?
    Acredito que as mulheres ainda não conseguiram a igualdade e o respeito em todos os campos em que escolheram atuar. Por exemplo, as pessoas ainda ficam assustadas ao verem uma caminhoneira, uma mecânica ou uma servente de pedreiro, deduzindo que as mulheres não teriam habilidade para tal. Mas por uma questão até mesmo demográfica, de fato existem mais mulheres que homens em nosso país, se faz necessário que as mulheres assumam posições que em outros tempos eram exclusivas de homens, o que pode estar  ligado também ao fato de a violência em nosso país deixar milhares de mães solteiras que assumem o papel de líder da família, então nesse caso é possível que naturalmente nos acostumemos a ver mulheres dominando cada vez mais todas as áreas de atuação possíveis.

Já sofreu algum tipo de preconceito ou falta de oportunidade, ao longo da sua vida, por ser mulher?
    Acho que minha geração foi privilegiada por chegar em um tempo em que a idéia de igualdade entre mulheres e homens estivesse em seu auge, como um costume necessário ao próprio mercado de trabalho. Então ao longo da minha vida não tive tantos problemas, por exemplo, em jogar futebol ou assumir uma posição de liderança em alguma empresa. Mas sempre senti um peso maior sobre mim quando se tratava em assumir algum erro ou resolver algum problema mais complexo, nesses casos, sempre davam mais credibilidade a algum homem. Mas aprendi que tinha que provar que era capaz e por isso aprendi a só pedir ajuda em casos muito extremos, não sei se isso pode se aplicar para todas as mulheres, mas em meu caso foi bastante benéfico para minha personalidade e confiança.

Conte um pouco da sua história... Quando começou a trabalhar com arte? Teve outras profissões antes?
     No campo da arte minha história começou com a vontade de realizar um curso para me especializar, então quando completei 15 anos busquei por conta própria um curso gratuito de desenho livre, nesse curso conheci um dos maiores incentivadores para minha decisão de fazer uma faculdade de arte, o meu professor de desenho. Nesse curso havia muitas pessoas mulheres e homens, mas já na 2° aula, havia 8 meninos e eu de menina. Então continuei fazendo esse curso por mais 2 anos e nesse período todo só conheci uma colega que também persistia na idéia de trabalhar com arte. Durante esse curso meu professor me falava que estudava em uma faculdade de arte, mas eu não fazia idéia de para que servisse qualquer que fosse a faculdade, e me falava que eu devia fazer também, mas eu acho que ele dizia sempre com um pesar como se não quisesse dizer aquilo, também pudera, pois ele já sentia na pele as conseqüências da realidade de quem escolhe fazer uma faculdade de arte, e sabia que eu era pobre, pois quase não tinha dinheiro para os lápis que ele pedia para comprar. Depois desse período minha preocupação foi trabalhar para ajudar em casa, trabalhei dos 18 aos 23 interruptamente. Fui atendente de fast-food, onde fui promovida a supervisora, por 2 anos e meio, depois trabalhei em uma lojinha de utilidades domésticas, e foi nesse período que resolvi investir em mim e fiz um curso de desing gráfico e fiz um cursinho pré vestibular comunitário,  depois disso, trabalhei em uma empresa de logística, onde também fui promovida de atendente de telemarketing para supervisora de vendas. Mas apesar do investimento da empresa e de estar ganhando bem, eu não era nem um pouco feliz com que eu fazia, e quando me inscrevi no vestibular me candidatei a duas faculdades a UEMG para desing gráfico e UFMG para Artes Visuais, minha preferência pela UEMG envolvia interesses financeiros, já para UFMG seria uma loucura. Passei no vestibular para as duas faculdades e escolhi a UFMG mesmo com todos os problemas do mundo envolvidos. Tive que pedir demissão da empresa o que foi muito triste para mim, pois toda equipe, especialmente um gerente, havia depositado todas suas moedas em mim, explicar para Deus e o mundo para que servia uma faculdade de Arte e o que eu faria da vida depois daquilo, e arrumar um jeito de ter o que comer por 4 anos. Eu via 4 anos de expectativas em meio a um nevoeiro, mas depois do susto comecei a colher bons frutos, descobri várias pessoas como eu, descobri que a universidade é um mundo a parte do mundo, me ajeitei muito bem com o apoio da assistência social da universidade e vi mil oportunidades de trabalhar com Arte.  Estou no 2° ano da Escola de Belas Artes e hoje eu sei que esta foi a melhor escolha que fiz na minha vida, nunca me senti tão feliz por fazer algo apesar das dificuldades que existem.

Acredita existir preconceito de gêneros na sua profissão hoje?
    Acho que não existe preconceito de gêneros em minha profissão, o campo da Arte bastante democrático.
  
Como esse assunto é tratado no meio artístico?
    A maioria dos artistas, pelo menos os que eu conheço, são bastante categóricos quanto a qualquer tipo de preconceito, é como se nossa missão fosse derrubar todo e qualquer preconceito que exista, parece meio ideológico, mas geralmente é bem comum ver obras de arte em protesto à violência contra a mulher, promovendo a igualdade entre as pessoas sejam elas de qualquer raça e orientação sexual, contra abusos de poder seja da polícia ou do governo. Enfim, acho que a sensibilidade artística não combina com preconceito.

2 comentários:

  1. Muito boa a entrevista.
    Parabéns Marina.
    Mas gostaria de saber sobre pintoras, brasileiras ou não, porque de cabeça me lembro apenas de Tarsila do Amaral. Seria muito interessante que você fizesse uma lista de pintoras famosas e colocasse aqui suas obras.
    Bjinhos
    Carol Florindo

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  2. Carolina Altenfelder11 de maio de 2011 às 10:13

    Nossa, a diversidade de histórias contadas aqui no blog por meio dessas entrevistas são incríveis. Podemos perceber que em todas as áreas profissionais as histórias são sempre batalhadoras e acho que essa é a nossa principal qualidade.

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